terça-feira, 29 de maio de 2012

Coceira


Ai, que angústia infinita de mim se apossa!
Pra que passe, peço a Deus de mãos postas
Tal é o indesejável lugar que, nas costas
Longe do dedo hirto, só bem ali é que coça

Para se coçar tal coceira de difícil acesso
A gente tem que dobrar para trás o braço
Por vezes roçar pelas paredes o espinhaço
Ou se munir de engenhocas nesse processo

Eu costumo usar uma escovinha de cabelo
Mas me valho, às vezes, além dum graveto,
De uma caneta, uma régua e até um espeto
O que der pra fazer pra coçar, vou fazê-lo

Mas é deprimente e irritante esta coceira!
Porque ela só surge onde não chega unha?
Que só sossega na fina ponta de uma cunha
Que persiste e perdura por uma vida inteira

Me armo de arame amarrado com elástico
Antena de rádio, quina de porta, vassoura
Me coço até com perigosa ponta de tesoura
E uma haste com uma mãozinha de plástico

Quando sinto que Deus ouviu minha prece
Me espreguiço, bocejo, relaxo, me recosto
Querendo me entregar ao que mais gosto
Adivinha o quê, de repente me acontece?

Depois de tudo que fiz pras costas coçar
Tenho que de novo sair de cima da cama
A velha angústia mais uma vez me chama
Numa vontade arrebatadora de ir mijar.

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