sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Chuva de palmas


Blogosfera



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Beleza


Um dia desses alguém me chamou de bonito, sem ser de forma pejorativa, sem ironia, de vera mesmo. E eu nem estava em Cobija, na Bolívia. E nem foi a minha mãe. Tampouco o filósofo Marcos Afonso. Foi uma mulher. Não, ela não é loira! Estava sóbria e enxerga bem. Olha pra gente bem direitinho, olhando assim, profundamente. Não, ela não é a Mãe Diná! Não é a “presidenta” também não. Ela falou de coração, com verdade em seus lábios. Eu vi nos seus olhos.

De todo jeito, sem jeito, eu acreditei e comovido, agradeci. Mas, fiquei completamente sem mais nada o que dizer. Sabe esses momentos em que você perde a fala? Dali em diante nada mais me tiraria a atenção e o interesse em tudo que ela fazia e dizia. Tornou-se meu sentido da vida. É muita tolice isso, né mesmo?! Mas foi mesmo assim como estou dizendo. Ela tinha um começo de sorriso no canto da boca, me olhou nos olhos e disse: “Você é bonito.”.

Falou sem ênfase, uma frase crua, suave, porém firme. Foi sensível e direta feito caminho de afiada lâmina em músculo teso. Ó, quem me conhece sabe. Não é doido (bem...)! Vê que eu não sou bonito. Isto é notório. Fato. Ponto. Mas essa mulher disse que sou e disse de uma maneira tão bem dita que eu não ironizei, não pude e nem sequer me passou pela mente doentia fazer piada para retrucar com uma defensiva retórica e mal humorada, conforme meu modus operandi.

Arrazoei. Num átimo confabulei com meus neurônios. Não encontrei resposta para meu dilema. Queria porque queria uma explicação plausível para aquele disparate. Como era possível tal criatura dizer pra mim que sou bonito e eu, sabendo o que sou, crer que ela está sendo sincera?  E assim, cerrei a boca num paradoxo ridículo, pois literalmente fiquei de queixo caído, de boca aberta entrando moscas, escorrendo baba.

Apesar de tudo, nós não tivemos nenhum relacionamento afetivo ou amoroso depois de sua declaração carinhosa e de minha total e estúpida inércia. Não sei exatamente onde estávamos, em que circunstância, nem quando houve esse encontro. Sei que ela sim, era muito bonita. Não, não era uma prostituta! Simplesmente alguém que me olhou nos olhos e me comoveu infinitamente com sua gentileza em forma de doces palavras.

Desculpe, eu criei um suspense desproposital. Bem... Ela se foi depois disso e eu estava querendo falar deste ocorrido há muito tempo. Este texto, cada frase, oração, parágrafo, foi escrito em datas bem distantes umas das outras. Eu ainda não encontrei as palavras para cientificar o que me ocorreu naquele dia, só sei que foi mágico, reconfortante. É muito bom ouvir boas coisas a nosso respeito. Faz a gente se sentir especial, importante, bonito de verdade.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013


ÓDIO

Teve eleição no inferno e o diabo perdeu.

Tu és tão ruim, tão nocivo, igualmente uma doença que dá febre e dor, tipo infecção dentária.
E, exagerando a prosódia, tu és um saco, daqueles sacos usados em ginásios e academias, para pugilista treinar murros, socos, suores e cuspes, mas esse saco, sendo o meu saquinho escrotal, aonde meu bom Deus achou por bem guardar a fábrica da minha semente, que tem até ouvidos, que acumulam vitupérios, muito mais possantes que os socos do atleta muscululento.

Tu arrotas podridão sempre que tentas falar meu nome.

Respiras os vapores dos dejetos de tua vida morta inteira.

Sonhas com os diabos que o próprio diabo sonhou e baniu de seus pesadelos e doou-os a ti.

Te apraz maldizer-me.

Não te basta imaginar-me defunto.

Não estás feliz com a notícia de minha derrocada.

Tu tens mesmo é que ver o meu cadáver.

Sim, eu sei.

Não verás.

Eu não queria - Por Deus!- te odiar.

O ódio é mau hálito.

Sai da gente, aparece, tapa os narizes, afasta as pessoas...

Fede...

E quem tem não sabe.

Não sente.

Eu sei...

Te odeio.

Tanto ódio...

Não desejo tua morte.

Anseio que tu tenhas uma vida muito longa.

Que vivas centênios doente, caquético. Putrefundo.

Que tuas mãos encolham e as juntas dos teu dedos ranjam.
E as unhas dos dedos dos teus pés arranhem quem tentar te limpar a bunda e te assear.

Que espirres muito e que te escorra catarro pelas tuas ventas a noite toda, o dia inteiro.

Que sobre uma raiz, um caco de ciso, lá dentro, no fundo da tua boca.

Que doa sempre e mais ainda quando lembrares de mim e sequer tentares pronunciar meu nome.

Que este fim de dente te sirva apenas para cortar a base da tua esverdeada e mau cheirosa língua.

Que doa mais.

Que teus ouvidos também doam. E doam muito.

Que tua pele doa demais. 

Que arda com a escuridão.

Que teu suor feda e arda e goteje pelos teus glóbulos e que tuas pálpebras ardam também
sempre que tu chorares de dor.

Queria poder te empalar e te esfolar e esfregar a tua cara na sola da minha bota,
enquanto tu rires.

Tenho vontade de quebrar-te e espalhar teus pedaços ensanguentados pela rua.

Que pares de brilhar.

Que não mais reflitas.

Que se escureça a luz em ti.

Que te espatifes,

Que te apagues,

espelho meu.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Outro dia eu falei mal do Sérgio Souto. Falei sim, num nego! Tava puto com ele! Mas esse puto resolveu escrever de novo. Eu tava puto com ele sim! Cobrei dele! Cobrei sua velha poesia. Aí ele veio com uma poesia nova. A sua velha poesia. A sua vida.


NEM MORTO
Sergio Souto

Vou armar um barraco e tanto
Provocar a maior confusão
Sem essa de levar a minha vida
No momento mais feliz de uma paixão.

Diga lá que eu não vou nem amarrado
Dispensa o padre e os convidados
Que o cortejo não sai não.

Eu sei que o povo vai entender
Que eu não pedi pra morrer
Veja que situação.

Tenho alergia a flores e a cheiro de velas
Eu me recuso a deitar num caixão
Detesto gente chorando ao meu lado
Que coisa mais sem graça e sem razão.

Partirei contrariado outro dia
Mesmo quando for a minha hora
Mas hoje eu não vou nem morto
Cancela esse enterro agora!!