Um dia desses alguém me chamou de bonito, sem ser de forma
pejorativa, sem ironia, de vera mesmo. E eu nem estava em Cobija, na Bolívia. E
nem foi a minha mãe. Tampouco o filósofo Marcos Afonso. Foi uma mulher. Não,
ela não é loira! Estava sóbria e enxerga bem. Olha pra gente bem direitinho,
olhando assim, profundamente. Não, ela não é a Mãe Diná! Não é a “presidenta”
também não. Ela falou de coração, com verdade em seus lábios. Eu vi nos seus
olhos.
De todo jeito, sem jeito, eu acreditei e comovido, agradeci.
Mas, fiquei completamente sem mais nada o que dizer. Sabe esses momentos em que
você perde a fala? Dali em diante nada mais me tiraria a atenção e o interesse
em tudo que ela fazia e dizia. Tornou-se meu sentido da vida. É muita tolice
isso, né mesmo?! Mas foi mesmo assim como estou dizendo. Ela tinha um começo de
sorriso no canto da boca, me olhou nos olhos e disse: “Você é bonito.”.
Falou sem ênfase, uma frase crua, suave, porém firme. Foi
sensível e direta feito caminho de afiada lâmina em músculo teso. Ó, quem me
conhece sabe. Não é doido (bem...)! Vê que eu não sou bonito. Isto é notório.
Fato. Ponto. Mas essa mulher disse que sou e disse de uma maneira tão bem dita
que eu não ironizei, não pude e nem sequer me passou pela mente doentia fazer
piada para retrucar com uma defensiva retórica e mal humorada, conforme meu modus operandi.
Arrazoei. Num átimo confabulei com meus neurônios. Não
encontrei resposta para meu dilema. Queria porque queria uma explicação
plausível para aquele disparate. Como era possível tal criatura dizer pra mim
que sou bonito e eu, sabendo o que sou, crer que ela está sendo sincera? E assim, cerrei a boca num paradoxo ridículo,
pois literalmente fiquei de queixo caído, de boca aberta entrando moscas,
escorrendo baba.
Apesar de tudo, nós não tivemos nenhum relacionamento afetivo
ou amoroso depois de sua declaração carinhosa e de minha total e estúpida
inércia. Não sei exatamente onde estávamos, em que circunstância, nem quando
houve esse encontro. Sei que ela sim, era muito bonita. Não, não era uma
prostituta! Simplesmente alguém que me olhou nos olhos e me comoveu
infinitamente com sua gentileza em forma de doces palavras.
Desculpe, eu criei um suspense desproposital. Bem... Ela se
foi depois disso e eu estava querendo falar deste ocorrido há muito tempo. Este
texto, cada frase, oração, parágrafo, foi escrito em datas bem distantes umas
das outras. Eu ainda não encontrei as palavras para cientificar o que me
ocorreu naquele dia, só sei que foi mágico, reconfortante. É muito bom ouvir
boas coisas a nosso respeito. Faz a gente se sentir especial, importante,
bonito de verdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário