quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Beleza


Um dia desses alguém me chamou de bonito, sem ser de forma pejorativa, sem ironia, de vera mesmo. E eu nem estava em Cobija, na Bolívia. E nem foi a minha mãe. Tampouco o filósofo Marcos Afonso. Foi uma mulher. Não, ela não é loira! Estava sóbria e enxerga bem. Olha pra gente bem direitinho, olhando assim, profundamente. Não, ela não é a Mãe Diná! Não é a “presidenta” também não. Ela falou de coração, com verdade em seus lábios. Eu vi nos seus olhos.

De todo jeito, sem jeito, eu acreditei e comovido, agradeci. Mas, fiquei completamente sem mais nada o que dizer. Sabe esses momentos em que você perde a fala? Dali em diante nada mais me tiraria a atenção e o interesse em tudo que ela fazia e dizia. Tornou-se meu sentido da vida. É muita tolice isso, né mesmo?! Mas foi mesmo assim como estou dizendo. Ela tinha um começo de sorriso no canto da boca, me olhou nos olhos e disse: “Você é bonito.”.

Falou sem ênfase, uma frase crua, suave, porém firme. Foi sensível e direta feito caminho de afiada lâmina em músculo teso. Ó, quem me conhece sabe. Não é doido (bem...)! Vê que eu não sou bonito. Isto é notório. Fato. Ponto. Mas essa mulher disse que sou e disse de uma maneira tão bem dita que eu não ironizei, não pude e nem sequer me passou pela mente doentia fazer piada para retrucar com uma defensiva retórica e mal humorada, conforme meu modus operandi.

Arrazoei. Num átimo confabulei com meus neurônios. Não encontrei resposta para meu dilema. Queria porque queria uma explicação plausível para aquele disparate. Como era possível tal criatura dizer pra mim que sou bonito e eu, sabendo o que sou, crer que ela está sendo sincera?  E assim, cerrei a boca num paradoxo ridículo, pois literalmente fiquei de queixo caído, de boca aberta entrando moscas, escorrendo baba.

Apesar de tudo, nós não tivemos nenhum relacionamento afetivo ou amoroso depois de sua declaração carinhosa e de minha total e estúpida inércia. Não sei exatamente onde estávamos, em que circunstância, nem quando houve esse encontro. Sei que ela sim, era muito bonita. Não, não era uma prostituta! Simplesmente alguém que me olhou nos olhos e me comoveu infinitamente com sua gentileza em forma de doces palavras.

Desculpe, eu criei um suspense desproposital. Bem... Ela se foi depois disso e eu estava querendo falar deste ocorrido há muito tempo. Este texto, cada frase, oração, parágrafo, foi escrito em datas bem distantes umas das outras. Eu ainda não encontrei as palavras para cientificar o que me ocorreu naquele dia, só sei que foi mágico, reconfortante. É muito bom ouvir boas coisas a nosso respeito. Faz a gente se sentir especial, importante, bonito de verdade.

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