quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Acabou-se tudo


Órfãos do Bigode
Márcio Chocorosqui

É o fim de uma era. O nosso ponto de encontro, o Bar do Bigode, localizado no centro da capital Rio Branco, não está mais com suas portas abertas. Uso esse eufemismo porque me recuso a dizer a palavra fechou (opa! falei). O bar morreu, mas seu proprietário, com a graça de Deus, está bem vivo. O Francisco Carlos, bom e velho Bigode, virou marajá (lembram dessa palavra? muito em moda na época de Collor). E foi no tempo desse ex-presidente que ele foi demitido da Eletronorte, ilegalmente. Até que, nos dias de hoje, mandaram-lhe novamente ao “trabalho”. Quer dizer, readmitiram-no. Culpa do barbudão de lá — o Lula lá.
Ao vislumbrar que ganharia um salário de marajá, o Bigode vai e fecha o bar, deixando para trás uma legião de órfãos. O Manuel, agrônomo da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, quase que diariamente saía do trabalho e ia curtir o happy-hour no Bigas. Quando o bar fechou, passou uns dias vagando pelas cercanias, sem saber o que fazer. O professor Bosco confessa que até chorou. O Wagner “Zé do Limão” viajou para esquecer a tristeza. Imagino o que tantos outros fregueses assíduos estejam passando. Em que bares estarão andando o Cocada, o Adal “Cara-de-Onça”, o Mucura, o Dias, o Homem de Nazaré, o Danilo de S'Acre, o Álamo Kário?...
Sei que, um sábado desses, encontrei o Abel, o Tonhão, o Gustavo “Tarzã”, o Gato Rom-Rom, o Dote “Coalhada”, os professores Sandro e Bosco no bar do Gel (o Gel do Seu Chiquinho). Foi aí que um pensamento piegas percorreu-me o espírito: quando uma porta se lhe fecha, abrir-se-lhe-ão sempre outras (assim mesmo, gastando a mesóclise, pois essas reflexões vêm geralmente em tom epopeico).
Sinto dizer: o Bar do Bigode fechou. Tem nada não. Já fomos órfãos de tantos outros bares. Mas esse deixou profundas marcas em nossas histórias. Talvez seja um símbolo das mudanças que ocorrem em nossas vidas. Devemos acatá-las com ternura, porque o tempo é mesmo deste jeito: cíclico. Não iremos medir o tempo em “antes do Bar do Bigode” e “depois do Bar do Bigode”. As tempestades passam, retornam depois e assim vai. Que este seja o marco de outra era de realizações etílicas. Sempre haverá uma luz nos direcionando para um mar aberto de belas e novas possibilidades. Parece que os sinais da mudança estão impregnando os ares.

* A arte acima foi feita por Francisco Braga para celebrar o “Xarope do Semestre”, eleição que ocorria no Bar do Bigode. O retratado é o próprio dono do bar, com todo carinho.

4 comentários:

Sandro Ricardo disse...

Em tempo 2: Prof. Sandro me envia email constando a frase:
Esta era a vida do Bigode, por isso fechou o bar — “Às vezes me sinto numa esteira rolante de aeroporto: andando em círculos e cercado de malas por todos os lados”.

FALTOU ESSA PARTE DA PUBLICAÇÃO DO CHOCO, TU TÁ QUERENDO ME TIRAR OU NÃO ESTÁ QUERENDO SE INCLUIR ENTRE AS MALAS? KKKKKKK

Observador disse...

acabou pq vcs sempre deixavam conta no prego... kkkkkk

Sandro Ricardo disse...

Aquela frase não é do Bigode, apenas foi publicada em sua homenagem.

Márcio Chocorosqui disse...

O título é "Órfãos do Bigode". Será que nem copiar direito tu sabe?
E apaga a expressão "Em tempo 1" lá no final. Pô, tenho até que editar teu blogue!