quarta-feira, 15 de maio de 2013

A russa

Ela tinha um sotaque maravilhoso. Notei na mesma hora que era da Xexênia. Ela era soviética. Disse para mim seu nome, que jamais esquecerei. Verginia Shavatzjnakovak ganhou minha atenção e meu interesse em sua estória extraordinária e, vendo seus lábios trabalharem freneticamente, me apaixonei por ela. Sua língua... Tão exótica e tão doce... Se estivesse falando palavras que eu entendesse, não teria me emocionado tanto.

Excitado que estava, eu a pedi em casamento sem pensar nem titubear e ela disse que sim, que seria minha para o resto vida, na saúde e na doença, na paz e na guerra e disse mais, que viveria comigo até debaixo da ponte e que me daria filhas e filhos lindos com a minha cara e seu todo amor. Foi um casamento de sonho, que toda garota algum dia sonhou casar assim como ela se casou. E, naquela cerimônia emocionante, eu disse sim e ela disse também sim.

Confesso agora, que eu não estava entendendo nada do que ela falava. Sei que gemia, que me falava palavras carinhosas. Ela me beijava e me lambuzava, e me salivava com seus quatro lábios deliciosos. Que mulher! Eu a amava como o poeta ama a letra, como a virgem ama a virtude, como ela amava a alegria, como o povo ama a liberdade. O amor aconteceu ali, naquele momento sublime, num arrepiar de vida.

Obviamente – Quem viveu, e viu, e leu sabe -, nós não nos entendemos assim como nossos corações palpitavam para que as promessas se cumprissem como desejávamos. Fomos apartados pelas palavras que cada um de nós dois tentava falar e nenhum dos dois entendia. Ela era russa e eu brasileiro. A gente só se entendia quando não falávamos. Eu só a entendia quando ela chorava e chorava no idioma universal da infelicidade.

Eu disse para minha amada Verginia Shavatzjnakovak que precisava sair dali e comprar cigarros, na banca da esquina. Ela soube, na mesma hora que falei isso, que eu estava mentindo, que não estava indo comprar cigarros, nem que a banca era ali na esquina. Eu sei que ela ficou triste e que sofreu com minha covarde desistência que, para mim, foi um presente para ela, a mulher que eu nunca entenderia o que falava, mas, assim, a livraria de mim.

Um comentário:

Café com letras disse...

Em se tratando amor e sexo a língua e a linguagem são universais. Principalmente a língua em se tratando de sexo.