Sempre, vez por outra, me perguntam assim, toda vida que eu digo que vim do Acre: “Do Acre? Meu Deus! Do Acre? Você é do Acre? Do Acre mesmo? Jesus! Do Acre?! Oh, meu Pai! Do Acre mesmo?!... Fala sério! Você veio mesmo do Acre?” E, antes que eu diga que sim, me perguntam mais ainda: “Mas... você nasceu lá? No Acre?” E exclamam: “Que legal! Gente! Esse cara acabou de vir do Acre! É sério! Ele veio do Acre! Olha! Do Acre! Sério mesmo! Do Acre!”
Sou nascido e criado na Aldeota, capital de Fortaleza, capital do Ceará. Estudei no Grupo Escolar São Pedro, dirigido pela irmã Maria do Carmo, professora de Religião, OSPB (Organização Social e Política Brasileira) e geografia, e juro por Nosso Senhor, que não perguntei nadinha ao Gúgol! Mas, tenho quase certeza absoluta plena, que, tanto a escola municipal São Pedro e o vizinho colégio particular Christus, eram mantidos pela Igreja Católica, financiados pela Ditadura Militar.
Eu tinha ali, pelunzoito ou dez anos quando meu pai, seu Otávio, pendurou na parede da cozinha (entenda como sala de jantar, tá!), três pôsteres, emoldurados, lado a lado. O primeiro, da esquerda para a direita, era o mapa do estado do Ceará, o do meio, era o mapa do Brasil e o último, o mapa múndi. Depois da janta, enquanto a mãe tirava os pratos da mesa, o pai apontava, com uma batuta (que parecia um pedaço de antena interna de televisão) um lugar, num daqueles mapas.
- Argentina! - Disse a Laluce, minha irmã mais velha – Capital? - inquiriu o Pai.
- Buenos Aires! - respondeu Dijé, a mais nova.
Olhou, franzindo o cenho, meu pai para mim. Como que ameaçando um surra de fivela de cinto, caso eu não respondesse à próxima arguição. Cutucou com sua bela batuta um ponto na beira do mapa do Brasil. Dali da onde eu tava, num dava pra ver o nome do lugar aonde a batuta apontava. Só num caguei, ali mesmo, na hora porque num tinha bosta pronta.
- Que lugar é esse, meu Deus? - Pensei. - Po-posso chegar mais perto, pai? - Pode. - Disse o pai. - Saia daí. Venha ver de perto.
- Ah! Já sei!
- Agora, responda então! Que lugar é esse, meu filho?
- É o Acre, né não?
- É. Acertou.
Mesmo assim, inda levei umas boas palmadas, por ter demorado a achar o Acre no mapa do Brasil.
Como dizia o velho escriba, José Chalub Leite: “ Ninguém vem ao Acre impunemente!”
Um comentário:
Ei, Braga, as interrogações das pessoas logo que falamos que somos do Acre rendem muita, muita, mas muita história pra contar! Eu mesma já escrevi algumas... "mas, vc fala tão bem português!!"
hahaha
:Pp
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