segunda-feira, 27 de julho de 2009

Idades dos países

A amiga Deja me enviou este artigo de Hernán Casciari.

A verdadeira idade dos países

Li uma vez que a Argentina não é nem melhor nem pior que a Espanha, só que mais jovem. Gostei dessa teoria e ai inventei um truque para descobrir a idade dos paises baseando-me no "sistema cão".

Desde meninos nos explicam que para saber se um cão é jovem ou velho deveríamos multiplicar a sua idade biológica por 7. No caso de paises temos que dividir a sua idade histórica por 14 para conhecer a sua correspondência humana.

Confuso? Neste artigo exponho alguns exemplares reveladores.

Argentina nasceu em 1816, assim sendo já tem 190 anos. Se dividirmos estes anos por 14 Argentina tem ‘humanamente’ cerca de 13 anos e meio, ou seja, está na pré-adolescência. É rebelde, se masturba, não tem memória, responde sem pensar e está cheia de acne.

Quase todos os paises da América Latina tem a mesma idade, e como acontece nesses casos, eles formam gangues. A gangue do Mercosul são quatro adolescentes que tem um conjunto de rock. Ensaiam em uma garagem, fazem muito barulho, e jamais gravaram um disco.

Venezuela, que já tem peitinhos, está querendo unir-se a eles para fazer o coro. Em realidade, como a maioria das mocinhas da sua idade, quer é sexo, neste caso com Brasil que tem 14 anos e um membro grande.

México também é adolescente, mas com ascendente indígena. Por isso ri pouco e não fuma nem um inofensivo baseado, como o resto dos seus amiguinhos. Mastiga coca e se junta com os Estados Unidos, um retardado mental de 17 anos, que se dedica a atacar os meninos famintos de 6 anos em outros continentes.

No outro extremo está a China milenária. Se dividimos os seus 1.200 anos por 14 obtemos uma senhora de 85, conservadora, com cheiro a xixi de gato, que passa o dia comendo arroz porque não tem – ainda- para comprar uma dentadura postiça.

A China tem um neto de 8 anos, Taiwan, que lhe faz a vida impossível. Está divorciada faz tempo de Japão, um velho chato, que se juntou às Filipinas, uma jovem pirada, que sempre está disposta a qualquer aberração em troca de grana.

Depois estão os países que chegaram à maioria de idade e saem com o BMW do pai. Por exemplo, Austrália e Canadá, típicos países que cresceram ao amparo de papai Inglaterra e mamãe França, com uma educação restrita e antiquada, e que agora se fingem de loucos.

Austrália é uma babaca de pouco mais de 18 anos, que faz topless e sexo com a África do Sul; enquanto que Canadá é um mocinho gay emancipado, que a qualquer momento adota o bebê Groenlândia para formar uma dessas famílias alternativas que estão em moda.

França é uma separada de 36 anos, mais puta que uma galinha, mas muito respeitada no âmbito profissional. Tem um filho de apenas 6 anos: Mônaco, que vai a caminho de ser puto ou bailarino… ou ambas coisas. É a amante esporádica da Alemanha, caminhoneiro rico que está casado com a Áustria, que sabe que é chifruda, mas não se importa.

Itália é viúva faz muito tempo. Vive cuidando de São Marino e do Vaticano, dois filhos católicos gêmeos idênticos. Esteve casada em segundas núpcias com Alemanha (por pouco tempo e tiveram a Suíça), mas agora não quer saber nada de homens. Itália gostaria de ser uma mulher como a Bélgica: advogada, executiva independente, que usa calças e fala de política de igual para igual com os homens (Bélgica também fantasia às vezes com saber preparar espaguete).

Espanha é a mulher mais linda de Europa (possivelmente França se iguale mas perde espontaneidade por usar tanto perfume). Anda muito com tetudas e quase sempre está bêbada. Geralmente se deixa foder por Inglaterra e depois denuncia. Espanha tem filhos por todas partes (quase todos de 13 anos), que moram longe. Gosta muito deles mas perturbam quando tem fome, passam uma temporada na sua casa e assaltam a geladeira.

Outro que tem filhos espalhados é Inglaterra. Sai de barco de noite, transa com alguns babacas e nove meses depois aparece uma nova ilha em alguma parte do mundo. Mas não fica de mal com ela. Em geral as ilhas vivem com a mãe, mas Inglaterra as alimenta. Escócia e Irlanda, os irmãos de Inglaterra, que moram no andar de cima, passam a vida bêbados e nem sequer sabem jogar futebol. São a vergonha da família.

Suécia e Noruega são duas lésbicas de quase 40 anos, que estão boas de corpo, apesar da idade, mas não ligam para ninguém. Trançam e trabalham pois são licenciadas em algo. As vezes fazem um trio com Holanda (quando necessitam maconha); outras vezes cutucam a Finlândia, que é um cara meio andrógino de 30 anos, que vive só em um apartamento sem mobília e passa o tempo falando pelo celular com Coréia.

Coréia (a do sul) vive de olho na sua irmã esquizoide. São gêmeas, mas a do norte tomou líquido amniótico quando saiu do útero e ficou estúpida. Passou a infância usando pistolas e agora, que vive só, é capaz de qualquer coisa. Estados Unidos, o retardadito de 17 anos, a vigia muito, não por medo, senão porque quer pegar as suas pistolas.

Israel é uma intelectual de 62 anos que teve uma vida de merda. Fazem alguns anos, Alemanha, o caminhoneiro, não a viu e a atropelou. Desde esse dia Israel ficou que nem louco. Agora, em vez de ler livros, passa o dia na sacada jogando pedras na Palestina, que é uma mocinha que está lavando a roupa na casa do lado.

Irã e Iraque eram dois primos de 16 que roubavam motos e vendiam as peças, até que um dia roubaram uma peça da motoca dos Estados Unidos e acabou o negocio para eles. Agora estão comendo lixo.

O mundo estava bem assim, até que um dia Rússia se juntou (sem casar) com a Perestroika e tiveram uma dúzia e meia de filhos. Todos esquisitos, alguns mongolóides, outros esquizofrênicos.

Faz uma semana, e por causa de um conflito com tiros e mortos, os habitantes sérios do mundo descobrimos que tem um país que se chama Kabardino-Balkaria. Um país com bandeira, presidente, hino, flora, fauna…e até gente! Eu fico com medo de que apareçam paises de pouca idade, assim de repente. Que saibamos por ter ouvido e que ainda tenhamos que fingir que sabíamos para não passar por ignorantes.

E eu pergunto: Por quê continuam nascendo países, se os que existem ainda não funcionam?

Sobre o autor
Hernán Casciari nasceu em Mercedes (Buenos Aires), a 16 de março de 1971. Escritor e jornalista argentino, é conhecido por seu trabalho ficcional na Internet, onde tem trabalhado na união entre literatura e blog, destacado na blognovela. Sua obra mais conhecida na rede, Diário de uma mulher gorda (Weblog de una mujer gorda), foi editada em papel, com o título: Mais respeito, que sou tua mãe (Más respeto, que soy tu madre - Argentina, 2009 - Editorial Plaza & Janés, 320 páginas, Rústica).

3 comentários:

Tião Vitor disse...

Muito bom, Braga. Aproveitei e botei os primeiros parágrafos lá no meu blog, mas com link para o teu.

Abraços

Sílvio Francisco Lima Margarido disse...

O Argentino é um Italiano que quer ser Inglês mas fala Espanhol

Márcio Chocorosqui disse...

O autor fala espanhol e o tradutor precisa corrigir o português.